sábado, 25 de junho de 2011

A metáfora da marreta nas lembranças dos cacos de telha

Interessante a gente se recordar da infância, quando chega à fase adulta. Nem tudo vem à lembrança tão claramente, mas certas façanhas parecem se eternizar. Eita... Tempo bom! O mais legal, porém, é quando nos damos conta de que alguma ação atual nossa tem um pezinho lá atrás. E é disso que quero falar aqui, agora.
Quando criança, eu adorava brincar naquele beco da casa de minha mãe, cheio de árvores; parecia um sítio: duas jaqueiras, três mangueiras, um enorme pé-de-colônia, cujas formigas me mordiam como se me quisessem devorar; mas eu adorava me esconder lá. E ainda havia aquele chão úmido no qual eu desenhava histórias; viajava, sentindo-me um herói de guerra. Minha mãe me dava poucos brinquedos. Éramos muito humildes... 10 irmãos! Lanchava farinha com açúcar... Ia à estrondosa Pipoqueira encher canecos de pipoca. Aliás, aqueles estrondos são eternos, ainda que hoje só se ouça louvor a Deus (Luz do mundo) no velho prédio da Pipoqueira.
Eu queria aqueles bonecos da Grow com aqueles carros de combate abarrotados de canhões, que disparavam mísseis com barulho proporcional ao da Pipoqueira. Adorava também os bombeiros da Playmobil, os heróis que a Estrela copiava dos desenhos animados... Como eu não tinha nada disso, fazia na terra minhas próprias histórias heroicas. "Tira a mão da areia, menino." Bradava minha velha!!! Bolas de gude... Pistas de corrida... Eu era o próprio Nelson Piquet contra Thierry Boutsen!
E os cacos de telha, hein? Aqui, sim, eu me sentia o máximo. Ninguém quebrava cacos de telha como eu: sempre no mesmo tamanho, sempre na mesma medida, com a marreta de seu Zeca, que só eu sabia onde pegar. Seu Zeca, aliás, nem ligava para minhas explosões fonológicas, quando a Patrulha Estelar riscava o chão do beco lá de casa, abatendo os inimigos. Os cacos de telha eram as bombas espaciais que se lançavam contra o terreno baldio, hoje um armazém de construção separado do beco por um alto muro.
O terreno era assombroso à noite. O beco só tinha graça de dia, pois à noite, sempre parecia que algo se escondia naquele beco escuro. Eu não ousava olhar. De dia, eu bombardeava o matagal que me assustara na noite passada. E os cacos de telha eram trabalhados como diamantes, para que atingissem o inimigo e causassem o dano perfeito: diminuição do medo. Um vizinho, certa vez, disse-me que fazia cacos também e me trouxe os dele para ao meu lado guerrear contra o Grande Pé-de-maracujá, que mais parecia uma fortaleza de galinhas e calangos ao brilho do sol. Sob as sombras das nuvens que encobriam a lua na noite, o Grande Pé-de-maracujá era o próprio ET! Uma aparição de Thriller.
Só que os cacos de meu vizinho não se comparavam aos meus. E ele não tinha como me garantir que havia sido ele mesmo o autor da arte. Fazia sem eu ver. Eu não. Quebrava os cacos no ato e lhe mostrava os segredos de como obter o caco perfeito. Mas a ele também faltava a ferramenta adequado: a marreta de seu Zeca.
Aí você se pergunta: o que tem a ver uma marreta e lembranças de cacos de telha com um revisor de texto, mestre em Letras e empreendedor? Digo-lhe que a marreta está para a habilidade de revisar um texto como os cacos estão para as produções daqueles que contrataram a Rede de Correções. Meus clientes são meu vizinho de infância, que sempre me levava cacos para eu lapidar. Seus textos, com todo respeito, são seus cacos, que necessitam de um olhar de fora, de um trabalho especializado. A marreta é meu conhecimento linguístico e experiência de trabalho. E minha batalha é contra os ETs da concorrência, que já não me metem medo, porquanto eu tenha aprendido a olhar para o escuro. Não há nada lá além daquilo que a Luz possa mostrar.
Resta agora concluir aqui o desenvolvimento de um método tão eficiente quanto aquele de quebrar cacos, no ato. Mas isso a Rede vai conseguir. Pode crer, caro leitor!

Robson Santiago

3 comentários:

  1. Nossa! Estou impressionado com a forma que você me fez lembrar também os meus momentos de infância. Os amigos, o lanche da tarde rsrs . Enfim, parabéns pela comparação dos cacos com o seu trabalho; sem dúvida um ótimo trabalho que cresce e conquista o seu espaço a cada dia!

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  2. Que experiência deliciosa!Adorei!!!

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  3. Isso me fez lembrar de quando eu era pequena, principalmente quando vc mencionou que lanchava farinha com açúcar. Quando eu viajava pro Ceará para casa de minha avó, ela costumava a dar-me farinha de pipoca com açúcar... O gosto ainda é vivo em minha boca. Mas enfim... Gostei muito das comparações feitas no texto. Adorei... =)

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