sábado, 17 de setembro de 2011

Ficai atentos ou sejai atropelados pelo Carro Velho.

Já andei tratando em nosso twitter @rededecorrecoes de um tema ao qual se tem dado pouca atenção nas redações jornalísticas: o uso equivocado, quanto ao padrão gramatical, da contração entre a preposição DE e o pronome pessoal ELE (ou ELES). É comum passar despercebido esse detalhe, pois parece mais fácil, rápido e coerente dizer "o fato deles entenderem", por exemplo. Aí surge uma ambiguidade que não se pretende provocar, mas que se poderia evitar, caso o uso adequado do pronome ocorresse.

A questão é que poucos atentam para o fato de que o pronome ELE, quando utilizado na função de sujeito de uma verbo, não se combina com preposição alguma. Aliás, nenhum pronome pode ser sujeito sendo combinado a uma preposição. Dou um exemplo retirado de um jornal local, mais precisamente do caderno cujas notícias versam sobre política. Omito a fonte por questões éticas, lógico. Mas não poderia deixar de transcrever o trecho, porquanto seja nossa função a observação e o zelo pelo uso do idioma. Então, vejamos:

"Assessores do Planalto informaram que a presidente teria mandado um recado ao presidente do Senado com relação à sua expectativa de sancionar o quanto antes a proposta. O impasse com Sarney e Collor se deve ao fato deles defenderem o sigilo eterno para documentos ultrassecretos."

Ora, se considerarmos que DE + ELES = DELES é usado em caso de complementação (nominal ou verbal), entenderemos que o FATO é dos dois senadores (deles), é pertencente a eles, provocado por eles. Nesse caso, é o fato que defende o sigilo; temos, pois, uma incoerência e um "erro" de concordância verbal, porque o texto caminha para o sentido de os senadores defenderem o sigilo, não de o fato defender. 

Para evitar esse tipo de leitura, de incoerência, de inadequação, é preciso separar preposição e pronome, reformulando a construção para "...se deve ao fato DE ELES defenderem...". Exercitando, observemos outros exemplos abaixo:

A política está perdendo credibilidade. É hora dela reagir. 
CORRIGINDO: É hora de ela reagir.

As pessoas não veem que está chegando o momento delas ficarem mais atentas: aí vem eleição!
CORRIGINDO: ...momento de elas ficarem mais atentas.

O mesmo acontece quando se contrai a preposição com artigo, produzindo frases como "Hoje é dia das pessoas votarem." Não, o dia não é das pessoas; é dia de elas votarem. Logo, "de as pessoas" é a construção padrão a ser produzida. No entanto, essa minúcia parece não ter muita relevância para alguns "escritores" de plantão. Eles simplesmente têm atropelado tal detalhe, embora encham a boca para criticar outros deslizes dos falantes comuns. Nem todos, claro! Mas lembram da polêmica do livro que ensinava a falar/escrever errado? Quem criticou o livro do MEC e sabia discernir esses usos aqui expostos? Assuma! É ou não é complexa nossa língua?

É bom ficar atento aos detalhes da "última flor do lácio", para poder fazer jus ao título, ao cargo a à função que se ocupa na sociedade. É bom também evitar tecer críticas a outrem, pois como costumo dizer aqui, a língua é viva, sujeita a mudanças, pertencente ao povo que dela faz uso - e não a esse ou aquele grupo de letrados - e cheia de pequenos detalhes,  muitos dos quais são desconhecidos por usuários comuns, não especialistas na pesquisa linguística, ou mesmo por usuários mais hábeis, porém desatentos à velha gramática escolar.

Então, caros redatores, editores, revisores e escritores, ficai atentos ao detalhe da contração entre o DE e os pronomes, para que não incorrais em deslizes que possam passar despercebidos à população desavisada, menos letrada; mas se cair na Rede... Aos críticos, posto a seguir um link com o áudio de uma aula de português maravilhosa, ministrada pelo Prof. Carro Velho. É claro que o autor daquele trecho supracitado que analisei aqui não se compara ao nosso mestre dos neologismos, mas seria interessante que entendêssemos que ambos são brasileiros, falantes da mesma língua e que, em menor ou maior quantidade e importância, ambos comentem deslizes quanto ao uso padrão da nossa língua portuguesa.

http://youtu.be/zwFJGC1FjPQ

Robson Santiago

2 comentários:

  1. Parabéns, Robson.
    Excelente artigo. Eu sempre aprendo um pouco mais contigo.
    Abraço.

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  2. parabéns mesmo!!! aprendi mais uma hoje!!!

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