"As pessoas estão vazias. As pessoas estão cheias de nada." Diz assim a letra de uma certa canção, creio que não muito conhecida nos dias de hoje, nos tempos de "Liga da Justiça dominada". Mas é bem representativa, uma vez que aponta justamente aquilo que ocorre nesses novos tempos: o império da solidão.
O homem quis assemelhar-se a Deus, quis buscá-lo para olhar frente a frente. Contudo, o mesmo patamar da Divindade é sonho impossível, ao menos diante dos recursos e ideias limitadas que a humanidade detém. Em seu poço de solidão, o ser humano busca satisfazer a si próprio, ao relacionar-se com os próximos, independente do método e dos recursos que use.
Na era moderna, valendo-se da escrita, o homem romântico, através das palavras, buscou a liberdade que lhe conduzia à morte. No entanto, esta, sim, era sua libertação, porquanto fora escravo da solidão. Era a liberdade de decidir até quando viver, contra a solidão de a ninguém merecer.
No mundo contemporâneo, as palavras continuaram sendo escritas, mas sendo enviadas instantaneamente. É e-mail, é celular, iphone, ipod, "ioquemaisquiserem". E o ser humano quis ser auto-suficiente no sentimento. Bastava apenas "usar" umas pessoas aqui e outras ali, suprindo suas necessidades fisiológicas, sexo-lógicas. Todavia, de volta ao seu mundo sem o aparato tecnológico, volta à solidão.
Dizia o poeta que a chegada da "indesejada das gentes", independente de como venha, poderia ser por ele recebida no medo ou na alegria. Certo é que ouviria seu vulgo certo: iniludível! Porém, o homem ainda acha que, antes dela chegar, é possível suprir a sua sina solitária nas palavras ditas e escritas no espaço público da internet, nas redes sociais.
Uma "acessada" aqui e outra ali não é diferente de uma "ficada" concreta aqui e outra ali. Os homens continuam mentindo, mesmo que virtualmente, pois escondem que são solitários, que estão vazios. Cheios de tecnologias, às vezes dinheiro, noutras expectativa dele; ainda assim, vazios. Têm o controle remoto nas mãos, mas suas mãos não estão preenchidas realmente. Têm o a tela à frente e o mouse sob si, e ninguém mais, e nada mais!
O mundo está vazio... As pessoas estão vazias... Descarregam nas redes sociais suas frustrações, porque lhes falta um social de concreto. Agora, vai perguntar quem quer se preencher, que a resposta é quase unânime.: "Eu quero". Mas a questão é: disponho-me a relacionar-me concretamente com o outro, ou minto para ele, com o intuito de manter minha liberdade de "acessar" aqui e ali?
Como em muitos casos a escolha é a segunda opção, o homem continua vazio, porquanto não tenha nada, ainda que assuma ter, que escreva ter. E assim acontece, todos os dias, até a indesejada chegar, como queria o poeta, e findar a solidão disfarçada ou assumida, ainda que tivera sido manifesto o desejo de findá-la antes.
O mundo está vazio! As pessoas preferiram o vazio. É mais cômodo, embora doloroso. Relacionar-se dá trabalho e não promove momentos duradouros de alegria. A solidão, que "devora, que faz nossos relógios caminharem lentos", ilude, entretanto, também acaba um dia. Basta decidir pelo concreto. Do contrário, acabará somente quando deixar de sê-lo. Tornar-se apenas lembrança.
Robson Santiago
Robson Santiago
Concordo, as mentes estão vazias pq cada vez mais, procuram a satisfação imediata, são arrogantes e deixam os pequenos detalhes da vida que merecem serem valorizados sumirem de suas mentes, daí surge a solidão.
ResponderExcluirobg!!!!
Obrigado por comentar o texto! Coisa rara por aqui... Mas, que tal identificar-se da próxima vez? Para nós tem grande valor a interação com nossos leitores assumidos. Grande abraço!
ResponderExcluirSem palavras, o texto diz tudo. Ele narra muito bem o que esta acontecendo nos dias modernos. Nós estamos habituados a dizer que os outros estão vazios, mas na realidade, somos nós os outros. Um grande abraço.
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